Uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgada em 2020, mostrou que cerca de 4,7% da população brasileira tem transtornos alimentares – um conjunto de doenças psiquiátricas que podem ser de origem genética, hereditária e/ou psicológica e provoca alterações na alimentação.
A compulsão alimentar é uma delas. Para entender melhor essa doença, as especialistas do Grupo São Cristóvão, a Supervisora de Nutrição e Dietética do Hospital e Maternidade, Cintya Bassi, e a psicóloga Aline Melo, do CAIS – Centro de Atenção Integral à Saúde, esclarecem dúvidas sobre o tema.
Principais características da compulsão alimentar:
- Necessidade de comer sem que haja fome física;
- Não deixar de se alimentar mesmo após estar satisfeita;
- Comer mais rápido do que o normal e sozinho, por vergonha da quantidade ingerida;
- Comer em grandes quantidades e em pouco tempo;
- Comer até sentir desconforto;
- Se sentir deprimido, com vergonha e culpa após comer demais. Os episódios podem ocorrer ao menos uma vez por semana, durante três meses.
“Caso perceba alguns dos comportamentos citados acima, é importante consultar-se com um especialista para entender qual o seu quadro e se pode ser caracterizado como uma compulsão alimentar. Segundo a psicóloga Aline Melo, muitas vezes o exagero na alimentação pode estar pautado em sentimentos como ansiedade, estresse, tristeza, precisando de uma investigação maior sobre como o indivíduo está se sentindo naquele momento.
“Essas são condições facilmente identificadas junto ao comer compulsivamente. Segundo a psicóloga, outra situação que também pode levar a compulsão alimentar são as dietas muito restritivas, focadas em eliminar alimentos específicos do dia a dia por algum objetivo. “Tal comportamento, após um tempo, pode gerar na pessoa o aumento do desejo pelo alimento proibido fazendo com que ela perca o controle em relação a sua saciedade quando exposta a ele. Assim, é gerado um ciclo de restrição e compulsão muito prejudicial à saúde. Por isso, que o papel de uma equipe multidisciplinar é tão importante, pois cada profissional entenderá a causa do problema, ou parte dela, para trabalhá-la junto ao paciente”, aborda Aline Melo.
Cintya Bassi explica que a nutricionista deve realizar uma anamnese detalhada para conhecer os hábitos alimentares e histórico de doenças do paciente. Além de analisar as crenças e medos que envolvam a comida e planejar suas metas terapêuticas que podem ser divididas em fases.
“Primeiro vem a etapa educacional, quando o paciente vai aprender sobre a doença e suas consequências, tirar dúvidas e conhecer o que é alimentação saudável. A segunda fase é a experimental, quando o foco será a mudança de comportamento”, diz a nutricionista do São Cristóvão Saúde.
Caso o paciente ainda encontre dificuldade no tratamento com o acompanhamento da nutricionista e a psicóloga, então é sugerido um trabalho com um psiquiatra para que ele avalie a necessidade de entrar com medicação para ajudar no processo.
Ainda segundo a nutricionista, a dieta para quem sofre com a compulsão alimentar não necessariamente será a base de alimentos que saciam a fome. “O trabalho é pautado em uma alimentação saudável e diversificada, porque o exagero na compulsão não está relacionado a fome física, mas a necessidade de suprir uma demanda emocional.”
Para finalizar, Cintya diz que o acompanhamento não é baseado na perda ou ganho de peso do paciente. O tratamento tem o objetivo de fazer com que a pessoa desenvolva uma relação saudável com a comida, com sua saúde e imagem corporal. E em geral, os resultados começam a aparecer após os primeiros meses de acompanhamento multiprofissional.