“Dói muito!” “É difícil compartilhar os filhos.” “É sofrer a perda de muitos amigos comuns.” “É muito difícil ver o ex de outra forma.” “É um desafio aprender a viver só.” Diante da pergunta: “O que não te disseram sobre o divórcio?”, essas foram as respostas mais frequentes da enquete que fiz com os seguidores da minha rede social.
Em setembro de 2020, a Revista Época publicou o resultado de uma pesquisa que revelou um aumento de 54% de divórcios no Brasil, após caída abrupta de números no início da pandemia. Os reflexos da convivência forçada para relacionamentos mais vulneráveis, foi de fato a separação. A pandemia em si não teria o condão de dilacerar qualquer relacionamento, mas evidencia disfuncionalidades mascaradas pela vida pré-pandêmica. Em alguns lares em confinamento os protagonistas foram a diferença entre os casais e inabilidade de estabelecer conexões seguras. Aí a cascata do desgaste, da falta de comunicação, da ausência de admiração, das brigas e desconfianças construíram a descida à insuportabilidade da vida em comum. E neste cenário de aridez, o divorcio tornou-se, para muitos, inevitável.
O número de separações ainda vem crescendo, intensificado após as festas de fim de ano, o marco final para muitos casais que, por um pouco mais de tolerância, aguardaram a passagem das datas comemorativas para libertar-se do relacionamento conjugal.
Mas a dor não acaba aí! A decisão da separação para aquele que teve coragem de manifestar seu desejo e revelar a falência do par conjugal vem com a bagagem da responsabilidade de levar a dor aos demais. Ao mesmo tempo, há um sofrimento dilacerante para o que escuta “Acabou, não consigo mais!”. Independentemente de quem tomou a decisão, a dupla carrega o peso da perda, com angústia, carrega o medo e a sensação de fracasso. A raiva também tempera esse caldeirão. Raiva do outro, raiva da vida, raiva pelas perdas, a raiva que acompanha todo processo te luto. Raivosos, com medo e muito feridos, esse é o primeiro degrau da maioria dos casais que, corajosamente, decidem encerrar o ciclo conjugal.
E, em meio a dor do fim conjugal há que se organizar a vida, a família que restou, aquela que não acaba com o fim do relacionamento afetivo. Organizar a vida financeira, moradia, família de origem, amigos comuns, guarda dos filhos. Embora eles que, nada tenham a ver com a separação, inevitavelmente sofrem os respingos da dolorida decisão dos pais. A instabilidade e a incerteza dão tom a esse novo momento familiar em que a matemática se pauta em dividir. A casa, o tempo, os custos, as relações. Essa vida nova, quando bem configurada, se balizará em um novo regramento que possibilite fortalecer o afeto entre aqueles que nem pela separação deixarão de ser pais, mesmo com a distância.
O divórcio é desafiador, mas não precisa ser uma batalha. O primeiro passo é acolher e normalizar que a separação é um processo dolorido. É viável viver essa fase respeitando o pesar e optando por não usar o arsenal bélico fartamente ofertado sob a promessa de redirecionar a dor deixando que um terceiro faça justiça!
Organizar questões patrimoniais e responsabilidades com os filhos de forma objetiva e racional é um norte que verdadeiramente minimiza a dor e os respingos dela, mas pare esse desfecho eficaz, é impreterível que as emoções sejam consideradas com tanta seriedade quanto as possibilidades legais.
Hoje é possível encontrar amparo profissional que contemple a emocionalidade e a necessidade de tomar decisões pragmáticas. Esse é o caminho mais macio para gerenciar questões práticas de forma amplamente pacífica, sem potencializar o sofrimento ou alimentar o mau querer por aquele que pode se tornar um aliado na reestruturação.
A pergunta título deste texto “O que não te disseram sobre o divórcio?” serve para todos que estão envolvidos neste contexto. Suscita reflexão sobre o caminho que está por vir para o casal em divórcio e para seus advogados. O direito de família será tão mais efetivo quanto mais inteligente através do emprego da empatia diante da dor e da real necessidade dos clientes. A dor, a frustração, a raiva e a angústia precisam ser processadas, dirimidas, solvidas, mais jamais podem ser trazidas para os autos de uma ação de divórcio. São emoções sensíveis e preciosas, que merecem respeito e cuidado pelo profissional de direito. Jamais podem ser usadas como instrumento de barganha para com aquele que eternamente será coparceiro na criação dos filhos em comum.
A negociação voltada ao direito de família focada na conciliação compila técnicas de várias áreas que vão além dos atos processuais. É na multidisciplinalidade com foco na autocomposição, que caminhamos em prol destes casais, para que eles mantenham a autonomia e sigam sendo a base para a família que apenas se modificou. O acordo é o caminho.
Discusão sobre post