Iniciamos o ano letivo com uma atmosfera carregada de tensões: a implementação de uma nova lei que restringe o uso de celulares nas escolas. Alunos apreensivos, professores reflexivos e uma pergunta que paira no ar: como essa mudança impactará o ambiente escolar? Será que a medida será eficaz? E, mais importante, é realmente necessária?
Para além das questões políticas que envolvem o tema, há uma base científica que valida essa restrição. Estudos comprovam que o uso excessivo de telas prejudica significativamente o aprendizado dos estudantes, afetando a interação, o envolvimento e a formação da memória de longo prazo. Esses aspectos são fundamentais para uma aprendizagem eficaz, e as telas, com seus estímulos constantes, frequentemente têm um efeito contrário.
O neurocientista Stanislas Dehaene, em seus estudos sobre os pilares do aprendizado significativo, afirma que o primeiro elemento essencial para aprender é a atenção. É um mito acreditar que conseguimos realizar duas atividades cognitivas ao mesmo tempo – como usar o celular e ouvir o professor, por exemplo. Na realidade, a atenção é fragmentada, e um dos processos acaba sendo negligenciado.
Só conseguimos dividir nossa atenção de forma eficaz quando uma das atividades se torna automática. O segundo pilar é o envolvimento ativo. Quando os alunos estão em frente a telas, imersos em um universo paralelo de informações na internet, sua capacidade de se envolver plenamente com a tarefa de aprendizagem se perde. Eles não participam ativamente do processo, o que compromete o aprendizado.
O feedback do erro, outro pilar fundamental, refere-se à correção contínua feita pelo professor, o que permite ao aluno ajustar seu caminho de aprendizagem. Por fim, a consolidação, que é o momento em que o conhecimento é reforçado, revisto e fixado, também se torna mais difícil em um ambiente digital repleto de distrações. Além disso, o excesso de estímulos digitais pode prejudicar a concentração dos estudantes, um dos aspectos mais cruciais para o aprendizado.
A restrição ao uso de celulares nas escolas, longe de ser uma medida punitiva, deve ser vista como um passo importante para criar um ambiente mais focado e propício ao aprendizado, onde os alunos possam realmente se concentrar e interagir com o conhecimento de forma mais profunda e significativa.
Por Arlen Gomes Souza, docente da aprendizagem no Senac Itaquera. Formada em Administração e Gestão de Recursos Humanos, pós-graduada em Pedagogia Empresarial, Moderna Educação pela PUC RS e pós-graduanda em Neurociências Aplicadas à Educação pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Arlen também é musicista, apaixonada por jazz, livros e agora tem uma nova paixão: as neurociências.
Discusão sobre post