Por Rafael Fernandes – professor de História e Historiador de Itaquera
O Casarão da Sabbado D’angelo povoou o imaginário e aguçou a curiosidade da maioria dos itaquerenses durante muitos anos.
Recordo que durante a minha infância tínhamos muita curiosidade em saber o que acontecia dentro daquelas paredes. Ouvia dizer que era uma espécie de mosteiro da Igreja Católica.
Não entendia muito o que isso significava, mas as informações escassas só enriqueciam ainda mais os nossos palpites sobre o edifício de arquitetura barroca e de grandiosidade que só os casarões de novelas de época possuíam.
Depois de adulto, essas indagações perderam significado em minha vida. Nunca mais me preocupei em pesquisar a história do casarão misterioso.
Mas, recentemente, estudando a história de Itaquera, esse casarão, mais uma vez, aguçou a curiosidade não mais de um garoto com muitas perguntas, mas de um historiador que ama boas histórias.
Então, nessas linhas, dividirei a história desse espaço que se tornou patrimônio histórico de um povo carente de histórias.
Sabbado D’angelo, um imigrante italiano, veio para o Brasil no final do século XIX e se estabeleceu no país fazendo fortuna como conhecido e respeitado empresário no ramo do tabaco.
O empresário, dono da conhecida fábrica de cigarros “Sudan”, construiu a casa de veraneio entre o final do século XIX e o início do século XX.
Esta prática era adotada por outros empresários e comerciantes daquela época, que se beneficiavam do clima agradável e calmo dentro da cidade de São Paulo, que cada vez mais se industrializava e crescia economicamente.
O menino Sabato Ângelo (grafia encontrada para o nome do empresário) desembarcou no Rio de Janeiro entre os anos 1883/1884. Com pouco mais de 5 anos de idade foi para Minas Gerais, e aos 25 anos veio se aventurar na industrializada São Paulo.
Trabalhou em algumas fábricas e, em 28 de março de 1912, abriu sua primeira firma: a “Cigarros Barão’.
O “Rei do Fumo”, como ficou conhecido o empresário, se tornou em pouco tempo personalidade nacional. Não só como empresário, mas como patrocinador cultural e esportivo.
Com uma breve pesquisa em qualquer site de busca é possível encontrar uma obra chamada “Herdei os restos mortais do comendador Sabbado D’angelo”, de Namar D’angelo e Arriete Marlene D’angelo.
Na obra as autoras se declaram herdeiras do empresário e afirmam que a avó delas, que foi funcionária da fábrica de cigarros Sudan, teve um caso com o dono e, desse relacionamento, nascera uma filha batizada com o nome de Ursulina D’angelo.
É possível também encontrar a informação de que a imagem de Nossa Senhora do Carmo veio da Itália a pedido do empresário. Já itaquerense nessa época, Sabbado D’angelo tinha como objeto fundamental a inauguração de uma igreja com o nome da santa.
Após a morte do empresário, em 8 de dezembro de 1938, o casarão ficou sob os cuidados da viúva Anita Pastore, que em vida pediu que o local abrigasse uma escola ou qualquer outra Entidade educacional.
Assim, na década de 1940, o casarão foi adaptado para a instalação do “Núcleo Profissional Livre Sabbado Dangelo”. Em seguida, foi cede da Escola Normalista.
O espaço também abrigou a sede do Ginásio Estadual de Itaquera, da Escola Professora Emília de Paiva Meira (atualmente em outro prédio) e, por último, foi ocupado pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição da Família e Propriedade (FTP), que permaneceu até o ano 2000.
Em março de 2018, o imóvel, atendendo à solicitação de vários grupos do bairro de Itaquera, foi oficialmente tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
Algumas perguntas respondidas, algumas curiosidades descobertas. Fato é que a vida do empresário a todo momento se encontra com a história do casarão e do bairro.
Sabbado D’angelo ou Sabato Ângelo foi uma das maiores personalidades do local durante seu período. Seu carinho e dedicação por Itaquera não encontraram limites quando o assunto era o crescimento da região.
Ele deixou um legado que até hoje influência de maneira positiva no crescimento e desenvolvimento de Itaquera. Resta saber como o atual casarão vai ser utilizado de agora em diante.
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