Algumas pessoas conheceram o Seu Nininho como o esposo da Dona Lurdes, pai de sete filhos e morador do Morro do Falcão. Outras conheceram o Seu Nininho como um dos fundadores do time Falcão do Morro Futebol Clube.
Talvez alguns se lembrem do Rei Nininho, que também foi um dos criadores e único Rei da Escola de Samba Falcão do Morro. Ou do chefe de cozinha que trabalhou durante 25 anos na Nife e mais de 10 anos na Montepino (metalúrgica situada na região do Parque do Carmo).
Mas a grande maioria dos moradores da região conhece o legado deixado por Pai Nininho, líder religioso que conduzia o terreiro “Tenda de Umbanda Cacíque Ocenair”.
Então, vamos conhecer agora um pouco mais da história desse grande homem e todas as suas contribuições para o nosso bairro?
Durvalino Wanderlei Nascimento nasceu no dia 19 de abril de 1935, em Lorena, interior de São Paulo. De família católica, quando ainda jovem, se batizou em uma religião evangélica e depois foi para o budismo.
Porém, após um problema de saúde que acometeu a sua esposa, seguiu a sua vocação e se entregou à Umbanda. Foi quando a sua vida começou a mudar.
Com Dona Lurdes, teve sete filhos, sendo seis biológicos e um do coração.
E, entre todos esses acontecimentos, escrevia a sua história com Itaquera.
Em 1954, Seu Nininho e alguns amigos fundaram o time Falcão do Morro Itaquerense, nome que deu origem à comunidade em que estava inserido, antes conhecida como Morro do Querosene, por conta do local ainda não ter luz elétrica (na época os moradores utilizavam iluminação à base do produto). Após o time, o local ficou conhecido como Morro do Falcão, nome utilizado até hoje.
No final da década de 50, o time Falcão do Morro organizou um cordão para desfilar no carnaval. Passavam pelo Clube Elite Itaquerense e pelo Cine Itaquera (a partir da década de 60, quando o cinema foi inaugurado no bairro) para desfilar e receber os troféus.
Nesse período, “rivalizavam” com outro cordão formado por moradores da Cidade Líder, o Cordão Líder.
Com a chegada da Sociedade Amigos da Vila Corberi, a escola foi inscrita na Liga das Escolas de Samba e desfilou em diversos bairros da região, chegando ao Segundo Grupo das Escolas de Samba de São Paulo.
A qualidade da bateria chamava atenção, que nos tempos áureos da escola era conduzida pelo nosso querido Cobrinha. Infelizmente, a escola separou-se do time e aos poucos foi perdendo forças, até o encerramento das atividades.
Com a chegada da década de 1960, o Padrinho, como era conhecido no início, conduzia o terreiro com devoção e amor. Porém, a prática era alvo de preconceito por parte da comunidade e familiares (importante ressaltar que durante o período de 1964 a 1985 o país estava condicionado sob o Regime Militar Brasileiro, onde as religiões de matrizes africanas sofriam grande perseguição por parte da sociedade e Estado).
Mas isso não impediu que a casa crescesse e os filhos de santos se multiplicassem. O local, além das atividades religiosas, foi cenário de comemorações como aniversários, festas e casamentos.
Segundo seu filho Diney, muitas vezes seu pai preparava os bolos para as famílias que não tinham condições financeiras. ”Lembro muito que a maior alegria dele era dizer que todos os casamentos realizados pelo axé eram muito duradouros”.
Seu Nininho também realizava serviços sociais. Durante os anos que trabalhou como chefe de cozinha criou uma lista onde cadastrava pessoas que recebiam diariamente alimentos, além de doar roupas e outros itens essenciais aos mais necessitados da região.
E, graças à sua ótima relação com a comunidade, o terreiro foi aos poucos sendo aceito por todos e frequentado por muitas pessoas que procuravam apoio emocional e espiritual. E, claro, não posso deixar de comentar que, além de todas essas ações, nos dias de Cosme e Damião o terreiro ofertava a toda a comunidade as famosas guloseimas e brinquedos que alegravam principalmente as crianças da região.
Em maio de 2010, Seu Nininho, agora como o respeitado e admirado Pai Nininho, falece deixando um legado de amor, respeito, fé, solidariedade e união. Legado este que vem se multiplicando por todos que foram tocados pela sua obra.
Hoje o terreiro é conduzido por seu filho biológico Diney Nascimento, que segue um trabalho social e, junto com algumas lideranças religiosas da comunidade, como o Padre Paulo, da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, promove anualmente uma caminhada ecumênica contra a intolerância religiosa.
No site “São Paulo Minha Cidade” é possível encontrar um depoimento do Marcola (cidadão conhecido e respeitado no bairro). “A Bandeira do Falcão do Morro esteve desfraldada do chão ao lado do corpo em homenagem respeitosa a um dos seus grandes colaboradores. Obrigado Pai Nininho. Fique certo que sua obra terá continuidade, pois seus filhos foram por você preparados para este momento.”
Seu Nininho deixa, além de todo o seu legado, uma grande família com filhos, netos e bisnetos, que hoje, com a mesma devoção, continuam contribuindo com o crescimento econômico, espiritual e social do bairro.
Por isso, em nome de todos os cidadãos itaquerense, venho agradecer à essa brilhante contribuição à nossa querida comunidade.
Agradecimentos especiais também a Diney Nascimento e Marcos Falcon (Marcola), que tanto contribuíram para essa pesquisa.
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