Formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), recém-formada em mestrado no curso de História pela Universidade de Tohoku, no Japão, professora de inglês, espanhol, japonês, intérprete, pesquisadora e mangaká (aptidão de quem desenha mangá), Marina de Melo do Nascimento, 29, viralizou nas redes sociais recentemente de forma meteórica.
Não fosse o vasto currículo escolar e a imensa vontade de vencer na vida, talvez Marina nunca tivesse saído de Itaquera para brilhar na “terra do sol nascente”. E você teria perdido a oportunidade de conhecer a história da primeira negra brasileira a se formar na melhor universidade do Japão.
“Gostava muito de morar lá, as pessoas acham que Itaquera é uma favela gigante, mas não é. Itaquera é um lugar muito bonito e muita gente precisa se livrar do preconceito que existe com quem mora em territórios periféricos”, contou a estudante.
INFÂNCIA NA ZONA LESTE
Marina morou em Itaquera até os 15 anos e sua paixão pela cultura japonesa vem dessa época. Além disso, a vocação para licenciatura sempre existiu e, por isso, optou pelo curso de humanas. Mais precisamente de Letras com aplicação em Letras Japonesas.
Ainda no ensino médio, sem fugir à regra da maioria dos jovens periféricos, a itaquerense passou a contribuir com o orçamento familiar. Sua primeira fonte de renda veio do emprego em uma papelaria ainda no Brasil. Os donos, que eram japoneses, incentivavam Marina a aprender a língua nipônica. No entanto, a primeira barreira na busca pelo aprendizado veio de onde ela menos esperava: do professor de japonês da época.
“Eu procurei por um curso de japonês no bairro do Carrão, mas ao chegar lá o professor me disse que era besteira aprender a língua, que eu não usaria para nada. E foi bem triste esse momento”, relembrou Marina.
DE MUDANÇA PARA O JAPÃO
De Itaquera à nova moradia na moderna Sendai, maior cidade do nordeste do Japão, Marina passou por uma verdadeira prova de resistência. Isso porque, durante os anos de graduação na USP, campus Butantã, a estudante precisou acordar às quatro da manhã todos os dias. Invariavelmente, se atrasava para as aulas que começavam às oito horas. O motivo dos atrasos frequentes era a distância de quase 40 km que percorria diariamente.
Mesmo com tantos ventos contrários e obstáculos pelo caminho, a pesquisadora não desistiu dos seus sonhos. Em 2011, reuniu quantia suficiente para a sua primeira experiência no Japão por meio de um intercâmbio que durou um ano. Já em 2018, mais madura, formada e casada, foi ao país como pesquisadora para dar início ao mestrado em História. O curso foi concluído no final de março.
Hoje Marina de Melo do Nascimento trabalha duro em três empregos para se manter no país. Com todo mérito, se transformou na primeira mulher negra a garantir o diploma de mestrado na Universidade de Tohoku. No dia de sua formatura, esbanjava um belo kimono e um penteado afro puff. Em postagem nas redes sociais a estudante escreveu: “de Itaquera para a atual universidade número um do Japão! Me formando de kimono e afro”.
Histórias como essas elevam o nome do Brasil mundo afora e mostram a força do nosso povo para além dos territórios nacionais. Marina é o exemplo de que a falta de oportunidade em Itaquera, deixada como herança da desigualdade social brasileira, não será mais tolerada por aqui.
“No Brasil, as pessoas que quebram barreiras vêm de baixo. Por que ainda tem gente que olha para o próximo e sente que ele não pode vencer também?”, questiona.
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