Quem mora em Itaquera e já se acostumou com a paisagem de concreto e aço, com o barulho dos carros, trens e ônibus, agora tem um novo motivo para apreciar as paredes do bairro.
Isso porque Waldir Grisolia Junior, que é artista plástico e morador da região, deixa claro em cada traço de seus painéis, o fio de amor e esperança que se tornou tão necessário nestes tempos de pandemia.
AGE
O grafiteiro, de 38 anos, também conhecido como Age, já pintou muros em países europeus como Portugal e Espanha e segue firme com o seu ideal: ser referência para a juventude de Itaquera por meio do grafite. Segundo o muralista, facilitar o acesso à arte para quem mora distante dos grandes centros culturais, também é uma meta que deve ser perseguida.
“Levar arte para a periferia é grandioso se pensarmos na responsabilidade como agente transformador social. O grafite me levou a lugares que jamais imaginei chegar. Quero oferecer o mesmo para o morador de Itaquera”, afirmou Age.
LIÇÕES DA PANDEMIA
Durante a pandemia o artista viu a procura pelo seu trabalho diminuir à medida que o novo Coronavírus avançou sobre os brasileiros. Dessa forma, ele precisou ser resiliente e acreditar que o reconhecimento do seu esforço viria.
Em agosto de 2020, ao invés de se acomodar e cruzar os braços, ele arregaçou as mangas e fez um dos trabalhos mais expressivos de sua carreira.
Pintado por Age e Roberto Alves na fachada do Centro de Atenção ao Colaborador, no Hospital das Clínicas, está um enorme painel com mais de cinco metros de altura. Trata-se da homenagem aos profissionais da saúde que retrata uma enfermeira paramentada com máscara e uma rosa na mão.
Ao seu redor estão outros personagens como, por exemplo, um funcionário da limpeza que é considerado pelo grafiteiro “um profissional essencial no combate à Covid-19.”
ARTE COMO EXPRESSÃO
Embora a pandemia tenha limitado as intervenções artísticas, para Age, um dos idealizadores do Beco do Hulk (galeria de grafite a céu aberto em Ermelino Mattarazzo), é importante que a comunidade toda se interesse pelas expressões trazidas pela arte.
Assim, um mural feito de grafite pode se tornar uma referência local e cumprir o seu papel social de inclusão. Além disso, o grafiteiro, que é autônomo, defende a cultura como veículo para geração de emprego e fazer girar a economia local.
“Ter o apoio dos comerciantes locais é muito importante. Usamos um número elevado de material para fazer uma ilustração e podemos comprar deles. Sem falar que um muro ou comércio bem pintado atrai mais clientes”, observou.
DIA MUNDIAL DO GRAFITE
A entrevista ao Desenvolve Itaquera ocorreu na mesma data em que se comemora o Dia Mundial do Grafite: 27 de março.
E quem mora no extremo leste de São Paulo sabe o quanto a cultura é importante para a formação juvenil. E, assim como o muralista, inúmeros jovens se beneficiaram dos cursos da Oficina Cultural Alfredo Volpi.
Pensando nisso, o artista plástico fez dos muros e salas de aula de escolas da região seu ateliê preferido. Através do projeto Graffiti Nas Escolas o grafiteiro pode retribuir o sentimento de esperança que teve contato ainda na adolescência.
“Eu participei das oficinas da Alfredo Volpi. Foi lá que tive o primeiro contato com spray no curso de stencil. Quero devolver a essa molecada o sentimento de pertencimento e vê-los vencer.”
QUAL COR?
Em um bairro em que a distância geográfica pode ser um problema para muitos, pessoas como Age driblam os obstáculos da vida com sucesso.
Por outro lado, ser artista e viver da própria arte ainda é um sonho distante para alguns.
No entanto, a pergunta que fica é: com qual cor você quer pintar Itaquera?
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