Ou será que já mudou? A Covid-19 alerta para isso. Não apenas pela alteração da rotina nesses dias de isolamento, quando não podemos realizar simples tarefas ou ir aos locais de nossa preferência. A vida no geral está bem diferente.
Pensando nas inúmeras transformações que vamos encarar quando o novo vírus enfraquecer, como será de fato o mundo e as suas interações sociais e empresariais?
O Coronavírus tornou-se um divisor de águas. Ele surge como um símbolo de um legado adquirido no final século 20 e início do século 21 com um crescimento populacional gigantesco, grandes centros urbanos com consumos desenfreados e um ritmo de vida frenético e muito competitivo.
E também em meio a uma oferta valiosa de tecnologia, que embora tenha acabado com as “barreiras” de distanciamento entre as pessoas, principalmente no que se refere à comunicação, nunca nos afastou tanto do relacionamento interpessoal.
Ficamos mais competitivos, intolerantes e frios. Passamos a vender uma sociedade recheada de ilusões, onde o sucesso se tornou uma obrigação e não uma consequência. Será que não criamos um modelo de sociedade completamente desigual que visa o lucro a qualquer custo?
A “ficha” cai com a chegada de um pequeno microorganismo, invisível aos nossos olhos, mas muito poderoso, que coloca todo mundo pra pensar: e agora, quais são os reais valores da vida?
E as perdas começaram a sentidas na pele: das pessoas amadas que se foram se que ao menos pudéssemos nos despedir, da falta de liberdade, da impossibilidade de poder sair para trabalhar e gerar renda para o sustento da família, de realizar simples atividades rotineiras, como ir à escola, encontrar os amigos, passear, de gastar o que ganhamos da forma como bem desejássemos.
Aí aquele sentimento de sucesso adquirido após anos de adrenalina insana e ganhos é substituído por um dos sentimentos mais propulsores da humanidade: o medo. Que loucura!
O vírus fez a gente se desligar à força do modo automático em que vivíamos. Parecíamos uns “robôs” brigando a todo o momento com todos e principalmente com o relógio: seria tão legal que o dia tivesse mais horas pra resolver tudo… E agora?
Muitos até têm bastante tempo para fazer uma avaliação interna para restaurar verdadeiramente quem se é. E, na verdade, todos somos seres humanos repletos de fragilidade e sentimentos que nem sequer sabíamos que existiam mais.
E como todo um grande marco na história sempre existe um lado positivo, o que tudo isso trará para a humanidade? Difícil responder… Mas será que voltaremos a enxergar o outro, a sermos mais tolerantes e humildes? O momento pede uma revisão de valores e foi provocada por uma gravíssima crise sanitária, considerada sem precedentes para esta geração.
Que a solidariedade e a empatia continuem após este período de pandemia, que as mudanças positivas para uma melhor qualidade de vida continuem a acontecer, e as grandes marcas e empresas continuem engajadas em ações sociais que façam a diferença. As transformações com certeza serão inúmeras e acontecerão em todas as áreas; na política, na economia, nos negócios, nas relações nacionais, internacionais e sociais, na oferta à saúde, educação e emprego, na cultura, na relação com a nossa cidade e com o espaço público.
E também no modo como vemos e convivemos com o nosso planeta, os ecossistemas e os animais. Tudo faz parte de uma grande corrente e estamos interligados.
A frase de Joseph Campbell nunca fez tanto sentido: “Nós não nascemos humanos, nós nos tornamos humanos”. Quem sabe esta pandemia possa nos ajudar neste processo.
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