O assunto está de volta. Qual a solução para combater as enchentes? Entra ano, sai ano, e as enchentes continuam a tirar o sono de muitos moradores e comerciantes. Com a impermeabilização do solo cada vez mais presente nas grandes cidades, se faz, mais do que necessário, aumentar as áreas verdes. Além de cuidar das já existentes como “relíquias”.
Um bairro arborizado e com áreas permeáveis traz inúmeros benefícios. Além de deixar o local mais bonito, as árvores contribuem para melhorar a qualidade do ar, seus galhos fazem sombras maravilhosas em dias de sol intenso, e ainda ajudam a escoar, através do solo, a água das chuvas.
Além disso, parques, canteiros e ilhas verdes contribuem, e muito, no combate às enchentes. No Conjunto José Bonifácio, mais precisamente na Avenida Nagib Farah Maluf, próximo à estação de trem da CPTM, um Jardim de Chuva foi construído para ajudar no combate às enchentes. Segundo a subprefeita Silvia Regina de Almeida, o objetivo é permitir que a água escoe através de zonas de captação e se infiltre na terra.
“Ele filtra a água para uma rede de drenagem subterrânea, evitando o acúmulo na superfície. Além de funcionar como um recipiente, um captador de água alimenta o lençol freático. Eles são autossuficientes e retêm a água por um tempo, até que seja absorvida pelo solo”, explica Silvia.
Outra intervenção foi em 2018, quando a então Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras deu início a uma obra para aumentar a capacidade de vazão de um dos afluentes do Rio Verde, que passa na lateral da Avenida Jacu-Pêssego (sentido São Mateus), na altura do número 580, próximo às ruas Monte Horebe e Cheiro Mineiro de Flor. Os trabalhos serviram para canalizar o condutor de água o fazendo desaguar no Rio Verde. A intenção é tentar evitar as enchentes na região e na própria avenida, bloqueada diversas vezes por conta dos alagamentos.
QUE VENHA LOGO A AJUDA
Certa vez, durante conversa entre a equipe de campo do Desenvolve com uma família, sobre o problema das enchentes, ficou evidente a recorrência da situação. Passando de geração em geração, o hoje pai de família, que lá no passado ajudou o seu pai a salvar móveis e retirar água de dentro de casa, passa pela mesma situação na atualidade, com o seu filho o ajudando quando há uma inundação. Dá pra entender?
Outro exemplo. Em maio de 2017, a leitora Claudia Guisso encaminhou uma reclamação dizendo que, somente naquele ano, ela havia passado por quatro alagamentos na Rua Padre Veigas de Menezes, entre os números 200 e 280. “Quem não sabe e deixa o carro na rua quando chove acaba tendo muitos prejuízos. Fica o alerta”.
É por estas e muitas outras histórias que o itaquerense não vê a hora que algo positivo realmente aconteça. A criação e aprovação de projetos que realmente possam livrar os moradores e os comerciantes das consequências negativas do não escoamento correto das águas pluviais, estão entre as principais discussões.
AS MESMAS PERGUNTAS
As perguntas se repetem ao longo dos anos: os piscinões podem de fato resolver o problema das enchentes? Quais alternativas a Prefeitura, através de seus técnicos, pode oferecer? Os cuidados das margens e dos cursos dos córregos são realizados periodicamente? As encostas estão bem cuidadas, gramadas, com contenções ou gabiões? E as erosões? São reparadas?
Enquanto isso, outra situação ainda continua presente nos debates: os descartes clandestinos de lixo e entulho. A Prefeitura realiza a limpeza de córregos na região, entre eles, o Rio Verde, e um dos afluentes do córrego Jacu, na Rua Bartolomeu Ferrari. Só que, horas depois de limpos, novos descartes já podem ser vistos.
A subprefeitura deve, sim, ser cobrada, pela manutenção destes espaços, mas de nada vai adiantar se atitudes como estas continuarem a acontecer. Não são todas as pessoas que fazem isso, está muito longe disso, mas uma grande maioria ainda insiste em jogar materiais onde não se deve.
Este mesmo material dificulta o fluxo da água e se acumula no fundo. Aí, quando chove, o deslocamento pluvial, que já é comprometido pela falta de espaço, fica ainda mais comprometida. Resultado: refluxo e transbordamento.
VILÃO?
Até que o projeto para a construção de um piscinão saía do papel, o córrego Rio Verde vai continuar levando a fama de “vilão”? De acordo com algumas informações, o afunilamento de certos trechos prejudica o escoamento.
Também é muito questionado em debates que os problemas estariam concentrados, principalmente, na altura do córrego que compreende o final da Rua Padre Viegas de Menezes e o início da Avenida Pires do Rio, devido ao assoreamento.
OS PISCINÕES
Os reservatórios para controle de cheias, popularmente conhecidos como “piscinões”, são estruturas que, além de auxiliar no controle das cheias, em alguns casos podem ser usados para tratar a poluição carregada pela água, nas cidades.
Os projetos para os reservatórios de contenção de enchentes são embasados em estudos da hidrografia local. Como são obras ligadas a eventos naturais, os reservatórios são dimensionados para atuar bem até um determinado limite.
O professor do departamento de engenharia hidráulica da Poli-USP, José Rodolfo Martins, lembra, porém, que o bom funcionamento depende de outros fatores, como a manutenção e a coerência às dimensões do projeto, por exemplo, para atender seu funcionamento.
PRINCÍPIOS BÁSICOS
É preciso levar em consideração o volume e, portanto, a área superficial que receberá o armazenamento, além da altura da lâmina d’água dentro do reservatório. Deve-se considerar o dispositivo de descarga, em geral um orifício que restringe a vazão de saída, de modo que a vazão de entrada na cheia, de maior magnitude, gere um acúmulo temporário de água dentro do reservatório.
Por fim, deve haver um vertedouro de segurança, que permite a passagem da água por cima do reservatório, quando ocorre uma chuva maior do que aquela que serviu de base para o projeto.
DIMENSIONAMENTO
O projeto de um piscinão depende da pluviologia local. O projetista define um nível de risco e o associa à probabilidade de ocorrência de uma chuva. “Ao cair sobre a bacia hidrográfica em que está o piscinão, a água da chuva é, em parte, transformada em vazão. Assim, com a vazão de chuva que chega ao piscinão – estabelecido um determinado nível de controle para a vazão máxima de saída do reservatório – é calculado o volume necessário para não haver extravasamento nas condições de projeto”, completa Martins.
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